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Segredos


“Leva-me pelos caminhos No sótão da sua memória Na dispensa de seus apetites Na ampulheta das suas horas Leva-me nos quartos dos seus Segredos Corpos como brinquedos”

- Badi Assad (2016)

Todos nós temos segredos. Coisas que fazemos, que vivemos ou que pensamos; a respeito de nós, de alguém ou de alguma coisa. Coisa que não contamos para qualquer pessoa, ou que muitas vezes não contamos a ninguém. Segredos. Um cofre que carregamos junto de nós aonde quer que estejamos. Informações que guardamos à sete chaves, não contamos a ninguém, seja por medo, vergonha ou orgulho, e estamos dispostos a levar tais informações para nosso túmulo, pois é o melhor a se fazer para nos proteger e reduzir eventuais constrangimentos e sofrimentos na vida.


Pelo menos é o que muitos de nós pensamos.


Desde os primórdios da psicanálise, seu fundador, Sigmund Freud, percebeu a importância da fala nos tratamentos psicológicos e psiquiátricos da época, algo que foi cuidadosamente estudado, e continua se ampliando, até hoje, os conceitos e estudos deixados por esse médico. E algo que ele deixa muito claro é que a fala tem um poder muito maior do que imaginamos. Através da fala, movimentamos conteúdos psíquicos dentro de nós, fazendo disso um importante agente de mudanças, através do qual podemos alcançar o auto conhecimento propriamente dito, e isso faz com que possamos viver de forma mais estruturada, mais preparados para enfrentar os problemas da vida. E é claro, que quando me refiro à fala, não me refiro a qualquer tipo de fala: trata-se de uma fala terapêutica, e isso acontece através de um vínculo (também) terapêutico, que por sua vez é baseado na confiança e garantia de sigilo por parte do terapeuta, dando à pessoa um espaço de escuta que não dispomos no dia a dia em nossos vínculos sociais ou familiares. É um lugar onde podemos dividir nossos segredos. Não importa qual seja. E mais ainda, é um lugar onde descobrimos segredos que muitas vezes nem sabíamos que estavam dentro de nós.


A fala, quando terapêutica, traz sentimentos de leveza, alívio, além de auxiliar na construção de novas vias neurais, que em outras palavras, é o registro de novos aprendizados, nesse caso, sobre nós mesmos, e é isso que fará com que possamos nos preparar para encarar os mesmos (ou novos) problemas da vida com um olhar mais adequado, de acordo com cada situação. É uma oportunidade de crescimento. A psicoterapia pode funcionar como uma espécie de espelho. O espelho serve para que possamos enxergar nossa aparência física, como nos apresentamos fisicamente, se estamos adequadamente vestidos, para as mulheres, como está a maquiagem, e a partir disso fazer alguma alteração no visual, ou não; muitos fazem caras e bocas para analisar expressões físicas, ou apenas por pura diversão. Da mesma forma, na terapia podemos observar e analisar como estamos internamente; podemos enxergar com isso se devemos alterar algo, e como podemos fazer isso. É uma via de acesso para se tomar conhecimento de si. E só podemos mudar aquilo que conhecemos.


O fato é que algumas palavras pesam dentro de nós, justamente pelo que elas representam. Dividir esse peso é importante tanto para nossa saúde psíquica como para nossa saúde física, pois a mente e o corpo interagem mutuamente, além de ajudar em nossos conflitos e convívio familiar, conjugal e social, pois nosso bem estar sempre repercute em nossas relações. Não precisa se fechar em si mesmo; a vida vai muito além de nosso próprio umbigo. Mas também não precisa ser um livro aberto para o mundo, despindo-se de todos os seus filtros. Isso também tem suas consequências. Podemos sim, chegar num ponto de equilíbrio entre esses dois extremos.


Equilíbrio: é como alguns teóricos consideram como a melhor definição de saúde e bem-estar.

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​© 2016 por Davidson Rodrigues 



 

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