Na Presença da Alegria
"Se alguém
Já lhe deu a mão
E não pediu mais nada em troca
Pense bem, pois é um dia especial."
- Duca Leindecker (1998)
Na Grécia antiga, Aristóteles utilizava uma palavra para se referir tanto ao amor quanto à amizade: Philia. O filósofo se utilizava dessa expressão, que em outras palavras, quer dizer alegria na presença. Seria algo como o contrário de fobia, que por outro lado tem mais a ver com os medos e aversões que sentimos à certas coisas. Tanto amor quanto amizade, o importante aqui é o que se sente na presença do que ou de quem se está próximo, algo muito diferente do amor platônico, como se pode observar em O Poder do Amor Platônico; enquanto em Platão amor é desejo pelo o que nos falta, Aristóteles diz que amor é alegria por aquilo que se tem.
E agora? Qual deles estará certo?
Talvez você tenha percebido que não existe certo ou errado nessa questão. Temos condições de amar de diversas formas diferentes, tanto na falta como na presença. Tomar somente um ponto de vista como perspectiva de vida nos aprisionaria num extremo, de forma a perdermos o dinamismo de nossas relações. Desejar é tão importante quanto desfrutar do que se desejou. E quando desfrutamos da alegria daquilo que está presente, mudanças acontecem, internamente, repercutindo em nosso humor, em nosso gosto pela vida, em sentir-se realizado e outras características, assim como há influencias em nosso ambiente externo, na qualidade das relações, a ampliação e mudança de vínculos, e até na forma de nos organizarmos socialmente.
Rousseau postula que antigamente, nos primórdios, as famílias se relacionavam entre si, pois não existia ainda a ideia de comunidade. Então, elas se alocavam nos arredores de algum rio ou fonte, pois já sabiam da importância da água para a vida do ser humano e dos animais. E era nesse lugar que as mulheres iriam buscar água para os afazeres domésticos, assim como os homens levariam os animais do rebanho para beber água, e a partir disso, começaram a se conhecer, e a desejar passar mais tempo juntos. Com o tempo, os encontros foram se tornando cada vez mais agradáveis e frequentes, aumentando assim o interesse entre aqueles homens e mulheres, a partir da qual se formariam outras famílias, expandindo esse conceito e se formando assim a ideia de comunidade, e consequentemente gerando uma readequação da linguagem, pois, sendo eles de famílias distintas, eram distintas também suas formas de comunicação. Alegria na presença. Podemos imaginar como isso impactou nossa sociedade desde o início da civilização. Podemos imaginar também o que isso pode nos proporcionar, o que pode mudar, e o que o ser humano seria capaz de fazer para que essa alegria perdure o tempo que for.
Hoje em dia, temos a vaga ilusão de presença das pessoas. Elas estão à um clic de distância, é uma facilidade impressionante de aproximação, que acaba por nos fazer esquecer da importância da presença real das pessoas que mais amamos. Esquecemos o que podemos mudar com isso, o que isso pode mudar em nós e nos outros. É comum pessoas se encontrarem hoje em dia, para no fim das contas se comunicarem mais com quem está do outro lado de uma tela do que com quem está à sua frente.
Aproveite a companhia da pessoa que está ao seu lado; procure sentir a alegria que ela te proporciona enquanto está ali, pois se você não se atentar à algumas sutilezas, ela será apenas mais uma que poderia estar ali ou não. E se ela se torna apenas mais uma na multidão, é comum que aos poucos as relações se esfriem e com isso as pessoas se distanciem. Alegria na presença. Para sentir isso, é preciso estar presente no momento, e ter em mente que isso tende a ser algo recíproco, ou seja, você também é motivo da alegria de outras pessoas. Mas isso somente se você estiver presente. Pior que a ausência física é a ausência de espírito de alguém que esteja ao seu lado. Então, aproveite cada um desses momentos para preencher a vida de quem está próximo, e se permitir que elas também preencham sua vida de alegria.
Faça da sua presença um Presente; faça do Agora algo especial.
