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Mais (que) um Amigo


“Ele vai à praia

Se isolar da realidade

Mergulhar no alto-mar

E lá no fundo se perguntar:

Aonde estão meu amigos?”

- Edgard Scandurra (2001)

Amigos pra quê? Algumas pessoas dizem que amigo bom é dinheiro no bolso. Outras se perdem no número de amizades nas redes sociais, sem ao menos se lembrar quem são a maior parte dessas pessoas. Antigamente, pelo número de amigos que alguém dizia ter, podia-se imaginar o quanto essa pessoa era realmente amigável e companheira, o que é algo muito nobre até hoje. Mas hoje em dia isso é algo questionável, pelo menos se tratando de internet. Ou, como você julgaria o companheirismo de alguém que você não se recorda? Ter bastante contatos é muito bom, e muito útil. Mas a Amizade é algo recíproco, e é a base de todas nossas relações sociais, conjugais e familiares. Quem ama, estabelece um certo tipo de amizade com a pessoa amada, assim como se estabelece outro tipo de amizade com seu médico, e ainda um outro tipo com aquela pessoa desconhecida com quem conversou numa fila.


Afinal, quem são seus amigos?


Aristóteles descreve três tipos de Amizade que desenvolvemos em nossas relações. A primeira delas é a Amizade com base na Utilidade. Seria o tipo de Amizade que propicia ao sujeito algum tipo de benefício, ou que garanta acesso à alguma coisa de seu interesse, algo muito comum, por exemplo, na política. O segundo tipo seria a Amizade com base no Prazer; podemos pensar, como exemplo, em alguns relacionamentos conjugais onde o sexo surge como único motivador da interação do casal. O filósofo afirma que esses dois tipos de amizade são extremamente frágeis, pois tanto a Utilidade quanto o Prazer podem se esgotar a qualquer momento, e com isso, se acaba a amizade. Acabou a bebida, acabou a amizade, como diz um dito popular. Resta o terceiro tipo, que seria a Amizade pautada na Virtude. Aqui, o interesse do sujeito é voltado para o que a pessoa realmente é, ou seja, os valores que ela manifesta, seja generosidade, sinceridade, sagacidade, e assim por diante. Esse tipo de amizade, Aristóteles afirma ser o ideal e mais sólido, pois é baseado em algo duradouro, uma vez que os valores acompanham a pessoa ao longo de sua vida.


Com isso, podemos agora imaginar que tipo de amizade desenvolvemos em nossas relações, e logo, dar a devida atenção a quem mereça. Não que exista o tipo certo de amizade, mas talvez seja importante se pensar à quais ocasiões podem ser aplicadas. Como poderíamos, por exemplo, esperar um relacionamento conjugal duradouro, caso ele seja pautado na Utilidade da pessoa, ou apenas no Prazer? Ao mesmo tempo em que pode ser comum estabelecer algumas relações pautadas na Utilidade, como a relação entre um médico e paciente, ou até mesmo no mundo dos negócios, por exemplo. Outro ponto que talvez seja importante se pensar, seja em relação a que tipo de Virtude você oferece aos seus amigos? Quais são os valores que sustentam seus vínculos mais próximos? O ser humano, principalmente desde o último século, apresenta uma tendência à querer ser mais amado e admirado do que amar e admirar ao outro, e acaba com isso exigindo tanta atenção do mundo, que se esquece da importância da reciprocidade nas relações; esquece de oferecer algo de si para a pessoa. É algo que acontece de dentro pra fora; para se ter amigos é preciso ser amigo, assim como antes de ser amado, é preciso primeiramente saber amar.


O importante não é apenas a quantidade de amigos, mas sim, e principalmente, a qualidade da sua relação com eles. Amizades são escolhas. Apesar das redes sempre sugerirem amigos a todo momento, quem escolhe seus amigos é você mesmo, e com isso, consequentemente, não podemos fugir da responsabilidade de escolher o tipo de vínculo, o tipo de aproximação, que teremos dessas pessoas. E ainda que algumas pessoas aumentem cada vez mais seu número de contatos, e por outro lado se distanciem cada vez mais dos seus vínculos mais próximos, ser mais que um amigo ainda é uma opção.


Ter apenas mais um na lista, é outra.


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​© 2016 por Davidson Rodrigues 



 

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