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A Face do Nada


“O segredo é se conectar

Sobre estar vivo

Sobre ser fogo, água e ar

Sobre estar vivo, em equilíbrio e respirar”

- Phillip Long (2012)

Lembro-me de há alguns anos ter levantado uma discussão no Facebook sobre o conceito de Nada. A provocação era O que é o Nada?, e após muita discussão, não se chegou em nada muito conclusivo. E vejo, hoje, como é realmente complexo se definir tal conceito. No entanto, Aristóteles faz uma reflexão que nos leva a crer que o melhor exemplo de Nada, seria o próprio ser humano. O filósofo considera a Natureza como uma forma de se organizar o Universo, a existência em si. Com isso, tudo na Natureza age da única forma como poderia agir. Um gato, por exemplo, faz desde seu nascimento, coisas que apenas um gato poderia fazer; e o mesmo acontece com o vento, com as plantas e com os demais seres vivos e não-vivos. Isso gera uma espécie de harmonia, onde tudo tem seu próprio lugar e seu próprio papel, com exceção do Homem.


E qual é o papel do Homem na Natureza?


Existe um mito grego que levanta, de certa forma, essa questão. Diziam na Grécia antiga que, Zeus, após vencer os titãs e assumir seu trono entre os deuses, achou graça em criar a vida mortal. E após os deuses criarem os seres vivos, faltava ainda atribuir-lhes suas características, cabendo essa tarefa aos irmão Epimeteu e Prometeu, filhos de seus antigos inimigos, que se aliaram aos deuses no final da guerra contra os titãs, que outrora dominavam a Terra. Epimeteu (do grego: retrospecção; que pensa atrás) ficou encarregado então de fazer a distribuição dessas características, e seu irmão, Prometeu (do grego: premeditação; que pensa à frente) ficou de realizar uma revisão final, tudo dentro de um prazo. E assim, Epimeteu começou sua tarefa: atribuiu guelras aos peixes, asas aos pássaros; garras à alguns, força à outros, e assim por diante, de modo que todos os seres vivos teriam condições de se defender para sobreviverem no mundo a qual seriam inseridos. Porém, deixando por último o homem, já haviam se esgotado todas as características e habilidades, e Epimeteu não sabia o que fazer. Chega, então, Prometeu para realizar a revisão, e vê todos os seres cuidadosamente preparados para ir ao mundo, enquanto o homem jazia descalço, nu, sem abrigo e sem defesa. Como o prazo já se esgotara, Prometeu resolveu, como solução, roubar a astúcia da deusa Atena e o fogo do deus Hefesto e oferecer ao homem, sendo castigado depois pelo roubo; mas por outro lado, os itens roubados, por serem virtudes divinas, geraram uma ligação entre os homens e os deuses, fazendo do homem a única criatura a acreditar e adorar aos deuses.


Desta forma, podemos imaginar como é antiga a questão do papel do homem no mundo. De acordo com o mito, podemos perceber que tudo na natureza tem sua função pré-determinada, mas o homem é um ser que precisa descobrir seu papel durante a vida, encontrar um jeito de se conectar ao Universo de forma harmoniosa. E isso acontece desde cedo, a partir do momento em que nos perguntam “o que você quer ser quando crescer?” . Então, com o fogo para iluminar a razão, e a astúcia para utilizá-la, temos agora condições de pensarmos numa forma de nos encaixarmos no mundo em que vivemos. Em resumo: se somos nada, podemos nos tornar qualquer coisa, a partir de nossas escolhas. Ainda mais nos dias de hoje, com a internet, isso se torna mais fácil e muitas vezes banal, pois nas redes exibimos apenas o que queremos que as pessoas vejam, apenas o que queremos que pensem que somos, mas nem sempre isso é real e autêntico. Algumas pessoas mascaram tanto sua realidade, chegando a ponto de se tornarem irreconhecíveis às pessoas mais próximas, muitas vezes com a intenção de impressionar outras mais distantes, mesmo que esteja passando por momentos ruins. Pois então, se você percebe que as coisas não estão bem, você tem a opção de mudar isso, ao invés de apenas esconder-se atrás de uma falsa realidade.


Mas lembre-se sempre que pode ser muito bom ser você mesmo. Permita-se se conhecer; saber de seus gostos, de suas qualidades e fragilidades é sempre um bom caminho para encontrar seu lugar no mundo. Não maquie tanto sua face, a ponto de não reconhecer seu próprio sorriso, ou suas próprias lágrimas, pois a vida é cheia de surpresas, o que nos leva a oscilar entre uma infinidade de afetos, e isso é normal.


Permita se (re) conhecer.

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​© 2016 por Davidson Rodrigues 



 

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